sábado, 3 de maio de 2008


O DIA EM QUE ARRANCARAM A MINHA ÁRVORE...

Pastor Neucir Valentim

“Junto a o rio, às ribanceiras, de uma a outra banda, nascerá toda sorte de árvore, que dá fruto para se comer; não fenecerá a sua folha, nem faltará o seu fruto.” Ez 47:12a

Dizem que um homem para se sentir realizado tem que fazer três coisas: Plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Bem, creio que neste caso sou um privilegiado, porque já fiz tudo isso em mais de uma vez.

Ocorre que a experiência de plantar uma árvore foi ilustrativa, isto porque, a primeira que plantei foi uma flamboyant, em frente à minha casa.


Lembro-me como se fosse hoje. Era uma manhã de sábado, e a minha primeira filha tinha ainda seus dois aninhos, juntos fizemos a empreitada.


Logo, a árvore tomou o seu rumo, e em menos de um ano já estava alcançando a janela do segundo andar do sobrado em que eu morava. No segundo ano, já uma árvore frondosa, chegava ao terraço, e sobranceira, jogava sua beleza por toda rua. Me sentia orgulhoso pela minha façanha. Afinal, fora eu quem plantara aquela maravilha da natureza.


Mas, nem tudo são flores, mesmo tratando-se de árvores. Por ser uma flamboyant, surgiu o problema de suas raízes, que logo, começaram a brotar com força total, levantando a calçada e adentrando para a casa da minha mãe no primeiro piso.


Para complicar a situação, estava já se encaminhando para o manilhamento de esgoto que saneava a rua. Senti no íntimo que teria que arrancar a minha árvore sem dó nem piedade, mas, comecei a defendê-la dos seus algozes: Aqueles que diziam sem nenhum tipo de piedade: Corta esta árvore fora! Tira isso daí, ela vai quebrar tudo! De alguma maneira, eu somatizava o assunto, e quando falavam nela, sentia-me como sendo a própria, e assim, tratava de argumentar ao contrário, dizendo que haveria um meio termo, quem sabe, cortando algumas raízes, etc. Sempre com desculpas esfarrapadas. Uma coisa era certa: Minha árvore estava causando problemas e eu não queria cortar as suas raízes.
Certo dia, cheguei em casa depois do trabalho, e para minha desagradável surpresa, ela não se encontrava mais lá, nem sombra, nem raízes. Havia sido arrancada totalmente.


Parecia que um vazio se instalara na paisagem. Fiquei triste. Soube mais tarde, que minha esposa, conivente com meu pai, deram um jeito de arrumar um trator da prefeitura para fazer o serviço, sem que eu pudesse intervir.
O fato inconteste é que a árvore precisava ser cortada, e eu, não queria admitir, apesar das conseqüências funestas que a mesma trazia, que a cada dia e a cada momento se ampliavam.


De alguma forma, somos assim para com algumas coisas que devem ser tiradas de nossas vidas, mas não temos coragem de fazer, porque nos agradam, “nos fazem bem,” ainda que, desagradando a muitos e até mesmo a Deus. E, em alguns casos o processo indica a necessidade de extração de uma raiz profunda, mas não queremos abrir mão, porque, afinal, nos causam certo “bem estar”, ainda que, prejudicando a muitos, destruindo coisas, quebrando a boa ordem da vida.


Eu sabia que se dependesse de mim, a árvore não seria arrancada; precisava de um auxílio externo, de alguém que, olhando o bem maior, a arrancasse. Mas, soube compreender o zelo dos que a tiraram sem dó nem piedade porque estavam com olhos corretos, desapaixonados. Logo plantei outra árvore no lugar, depois de uma pesquisa, descobri um tipo de árvore cujas raízes crescem para baixo, e não causam problemas a ninguém, e para minha felicidade, está lá até hoje, dando beleza, bem como, a satisfação que a primeira me traduzia, todavia, sem complicações.
Na nossa vida acontecem essas coisas. Plantamos árvores boas e más, e precisamos ter a coragem de arrancar as más, ou deixar que Deus as arranque, ainda que nos causem dores, para que outras surjam no lugar, que poderão embelezar a vida ao invés de criar problemas.
Querido, veja se existem raízes em sua vida que precisam ser radicalmente arrancadas. Quem sabe: Lembranças do passado, amargura, ódio, ou até mesmo ligações afetivas não saudáveis, que não produzem mais beleza alguma, apenas destroem as relações da vida. Se você não tem coragem suficiente para fazê-lo, peça a Deus que faça, mas deixe-O fazer por completo, e você verá que outras árvores bonitas aparecerão no seu caminho.

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